«Notáveis foram os resultados conseguidos com o milho»
A REVOLUÇÃO VERDE
por:
Neto de Salvaterra
Um exemplo bem conhecido dos maus e inesperados resultados de um Projeto de Desenvolvimento Agrícola bem intencionado, mas mal sucedido, é o da chamada «Revolução Verde», que foi amplamente descrito pela bibliografia da especialidade.
Tudo começou no México, em 1943, sob o patrocínio da Fundação Rockfeller, com a obtenção por melhoramento genético de algumas variedades de cereais. O governo daquele país pretendia assim combater de vez a fome endémica da sua população, reduzindo ao mesmo tempo o desequilíbrio da sua balança comercial.
As cultivares então obtidas eram de tamanho reduzido, resistentes à acama e aos agentes patogénicos; de ciclo biológico curto, permitiam mais de uma colheita por ano. No caso concreto do trigo, a produtividade média subiu de 800 kg/ha, em 1950, para 3 600, em 1970. A produção do cereal no México aumentou em consequência disso de 300 mil para 2,5 milhões de toneladas. Menos significativos, mas também notáveis, foram os resultados conseguidos com o milho, cujos valores ultrapassaram ainda as expetativas.
O êxito da «Revolução Verde» repercutiu-se noutros países da América Latina e foi mesmo retumbante na Ásia. Recorda-se a propósito que a produção de trigo na Índia cresceu de 50% entre 1965 e 1969; em apenas dois anos, subiu 60% no Paquistão.
***
O tipo de cultivo seguido impunha entretanto aos agricultores:
— manejo adequado do solo, com alfaias e tecnologias avançadas;
— irrigação abundante;
— fertilizações copiosas e granjeios frequentes;
— controlo apertado de pragas e doenças.
O sucesso da «Revolução Verde» estava deste modo condicionado a um conjunto de fatores (físicos, técnicos e económicos), que interessava não descurar.
Em primeiro lugar, devia-se prever que duas colheitas por ano fariam exigências. Na época das chuvas, a secagem do grão teria de ser artificial, com máquinas e instalações convenientes, tudo reclamando mais trabalho, mais preparação e mais dinheiro.
Em segundo lugar, devia-se esperar que as novas variedades não seriam imunes a todas as pragas e doenças. Face a enfermidades locais até aí desconhecidas, elas poderiam mostrar-se mais suscetíveis do que as suas congéneres autóctones, comprometendo então os propósitos em vista.
Em terceiro lugar, devia-se esclarecer o agricultor modesto do México (ou da Índia ou do Paquistão) que plantas tão apuradas não dispensariam a prestação contínua de assistência técnica, portanto também a existência de pessoal qualificado e disponível para o efeito.
Em quarto lugar, devia-se ter presente que a mecanização e motorização da agricultura libertariam força de trabalho do campo. Sem a contrapartida correspondente de emprego na cidade, as atividades marginais, os bairros de lata, a prostituição, etc., viriam como corolários fatais.
Em quinto e último lugar, devia-se saber que a monocultura em grande escala, a injeção maciça de corretivos e fertilizantes, o abate sistemático de cobertos vegetais, a aplicação repetida de fitofármacos, tudo isto alteraria o substrato biofísico existente, rompendo de vez o equilíbrio da Natureza.
Como alguns autores observam perspicazmente, no caso do México, logo desde o início, a «Revolução Verde» floresceu no Norte, onde prevalecia uma próspera minoria de grandes agricultores. No Sul, onde vivia um terço da população, milhões de camponeses continuaram sem acesso aos benefícios anunciados.
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A conclusão deste resumo é imediata: Ignoradas ou mal consideradas que foram as consequências da iniciativa face às populações-alvo, o esforço realizado ficou deveras comprometido. É certo que se fez subir o Produto Nacional, se difundiram equipamentos e práticas culturais eficazes, se reduziram (ou anularam mesmo) algumas importações de bens alimentares — mas é certo igualmente que os ricos enriqueceram mais, os privilegiados ganharam outros privilégios e os pobres ficaram tão pobres como antes.
Ninguém contesta hoje, nem isso se põe aqui em dúvida, os objetivos que levaram à «Revolução Verde» (aumentar as produtividades, elevar o nível tecnológico da exploração do solo, obter plantas melhoradas para as condições locais, passar da cultura tradicional de sequeiro para a cultura de regadio, etc.). Em regiões onde a agricultura recorria a práticas artesanais, tais necessidades impunham-se à evidência.
A crítica que se fez e continua a fazer é à incapacidade dos benefícios se repercutirem nos agricultores mais carecidos, condenados novamente à frustração de sempre. E isso tudo porque se esqueceu talvez, como conclui um estudioso da questão, que «mudar a conduta de milhões de seres humanos é muitíssimo mais difícil do que mudar o comportamento de plantas, solo, animais e água».
Neto de Salvaterra
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